quarta-feira, 2 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

O desvanecimento da classe operária, do sindicalismo e da militância política


  
   Actualmente, num mundo cada vez mais industrializado, com uma quantidade de produtos crescente,  o número de operários tem diminuído, provavelmente devido ao processo de desindustrialização da população que tem ocorrido nos países desenvolvidos. Nestes países (ex: Japão, EUA, União Europeia), o sector dos serviços tem crescido exponencialmente e, com ele, a população activa que é empregada no mesmo. Já o sector industrial tem requerido cada vez menos mão-de-obra, devido à automatização da indústria (geradora do desemprego tecnológico), às exigências dos novos sectores industriais em expansão (ex: electrónica, que requer mão-de-obra muito especializada) e à deslocalização das empresas para países menos desenvolvidos.
   Esta redução progressiva do número de operários nos países desenvolvidos tem gerado um declínio do sindicalismo nos mesmos. Contudo, esta tendência deve-se também ao facto de a consciência de classe estar também a desaparecer, dado que existem operários que precisam de manter o seu emprego a todo o custo, independentemente das más condições de trabalho, como, por exemplo, os imigrantes ou os trabalhadores em regime de tempo parcial. Por fim, há a referir que a competitividade e o materialismo, conceitos reavivados com a ascensão, a partir dos anos 80, do modelo económico neoliberal, levam a que a adesão a causas sindicais possa facilmente colocar em risco os postos de trabalho dos operários (devido às facilidades de despedimento) e a produtividade da empresa.
   Relativamente à redução do número de militantes nos partidos políticos, esta deve-se, sobretudo, à crise de ideologias que o Ocidente atravessa, o que origina, também, uma elevada percentagem de abstenção nas eleições, que denuncia o desinteresse ou o descrédito da maioria da população nas opções políticas existentes.
Portugal, um exemplo de crescimento do sector dos serviços:






















Portugal, um exemplo do declínio do sindicalismo:
«A EVOLUÇÃO DA SINDICALIZAÇÃO PORTUGUESA DE 1974 A 1995
   O declínio do movimento sindical tem sido um tema proeminente no debate internacional sobre o estado actual da regulação aos níveis micro, meso e macro-social, na última década.                                                
   Esse declínio expressa-se em múltiplos fenómenos: perda de sindicalizados, descida da taxa de sindicalização, crise de financiamento dos sindicatos, fraqueza de mobilização, elevada abstenção nas eleições sindicais, entre outros.                                                                                                                     
   Num quadro de insuficiente reflexão sobre o movimento sindical português, este estudo faz uma avaliação evolutiva dos efectivos sindicais e da taxa de sindicalização global e sectorial de 1974 a 1995.                      
   Os resultados indicam que a taxa de sindicalização desceu para cerca de metade, na última década, mostrando-se muito heterogénea a evolução sectorial. O enfraquecimento da relação instrumental com os sindicatos e a alteração das condições que modelam as decisões de adesão emergem como factores explicativos da descida assinalada.»
Cerdeira, Maria da Conceição
Portugal, um exemplo do crescimento do desinteresse político:

domingo, 30 de maio de 2010

Uma economia globalizada

   A globalização económica, que se inicia nos anos 80, é uma realidade actual que influencia os vários sectores económicos: comercial, empresarial e financeiro.
  
   Sector Comercial
   A diminuição das taxas alfandegárias, o grande desenvolvimento dos transportes e a criação de organizações de comércio livre (destaque para a Organização Mundial do Comércio, de 1995) resultaram num crescimento assinalável das trocas comerciais a nível internacional.
   No incício do séc. XXI, a Europa Ocidental e os EUA dominam o comércio mundial (42,4% do comércio mundial), seguindo-se a região Ásia-Pacífico (25,8%) e, em terceiro lugar, os países da América do Norte (15,1%).

   Sector Empresarial
   Desde a década de 90, a produção tendeu a mundializar-se, sendo que apenas a parte da investigação e concepção dos moldes dos produtos permanece sediada nos países da Europa e dos EUA, enquanto a elaboração dos produtos fica a cargo de fábricas localizadas, em países menos desenvolvidos, onde a mão-de-obra é mais barata. Este é o modo de funcionamento da generalidade das empresas mundiais.

   Sector Financeiro
   A globalização do comércio e das empresas levou ao aumento dos investimentos externos e das transacções de títulos financeiros (acções) por todo o mundo.

A crítica à globalização económica
   Existem vários movimentos contra os efeitos negativos da globalização económica. O Fórum Social Mundial, por exemplo, que existe desde 2001, tenta levar a cabo um projecto de alter-globalização, uma globalização alternativa que realça os aspectos positivos da diversidade cultural mas rejeita o capitalismo selvagem que eterniza a desigualdade social).
   Neste seguimento, as principais críticas que este movimento faz à tendência globalizante da economia são:
  • A existência de três pólos mundiais de comércio (EUA, Europa e Ásia-Pacífico), leva a que regiões como a América Latina, pólos árabes e África não tenham acesso à maior parte do lucro que o sistema capitalista globalizado proporciona, sendo que, nestas regiões, o pIB tem vindo a decair, acompanhando um grande crescimento populacional destes povos.
  • O liberalismo económico que gera o facilitismo das empresas multinacionais em deslocalizar as várias etapas da produção em função dos seus interesses económicos, gerando problemas de desemprego;
  • A exploração de mão-de-obra, muitas vezes infantil, que tem como fim o maior lucro possível das empresas;
  • O empobrecimento cultural através da uniformização dos gostos e dos hábitos, que proliferam internacionalmente através dos media.


O neoliberalismo na viragem do séc. XXI

   Devido à crise que afectou sobretudo o Ocidente, nos anos 70 e inícios da década de 80, em sequência da crise petrolífera e da instabilidade monetária, os vários países desenvolvidos adoptaram o modelo económico do neoliberalismo.
   O neolieralismo caracteriza-se pelo abandono das medidas que constituem o Estado-Providência (subsídios sociais + nacionalizações), em favor do retorno dos princípios do liberalismo económico puro do séc. XIX (livre-concorrência, iniciativa privada).
   O neoliberalismo reduz o peso do Estado na economia, cortando no número de empregos na Função Pública e na protecção social, com o intuito de reduzir na despesa pública. Para tal, recorre-se à privatização empresarial, à maior facilidade nos despedimentos e contratações, à liberalização dos preços dos produtos, à redução dos gastos com a segurança social e com os aumentos salariais.
   Os principais incentivadores do neoliberalismo foram os EUA, com a presidência de Ronald Reagan, e a Inglaterra, com o mandato da primeira-ministra Margaret Thatcher.
   Nos países que adoptaram este modelo económico para responder à crise, o PIB aumentou e a inflacção decaiu. Porém, houve vários custos sociais que derivaram da adopção deste modelo:  o desemprego aumentou, agravou-se o fosso das desigualdades sociais, o nível de vida das classes baixas piorou e os sistemas públicos, educativo e de saúde, perderam qualidade.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A crise do Estado-Nação

   O conceito de Estado-Nação define-se como a união de um povo sob um mesmo poder soberano, união esta que se identifica através de uma bandeira, de um hino, de uma constituição nacional, dos órgãos de poderes nacionais, de uma cultura própria.
   Esta forma de representação política surgiu com as lutas liberais europeias do século XIX, com a queda dos impérios após a 1ª Guerra Mundial, com as vagas de descolonização do segundo pós-guerra e com o fim da bipolaridade da Guerra Fria, com a queda da URSS nos anos 90. Os Estados-Nação proliferaram na Europa e, progressivamente, no resto do mundo.
   No entanto, com a entrada do novo milénio, dois factores essenciais contribuiram para a crise do Estado-Nação: os conflitos étnicos e anseios independentistas dentro de cada Estado e a globalização (existência de uma economia internacional, dos media, da comunicação electrónica, do crime organizado transnacional, da migração, da questão ambiental, etc). O Estado-Nação encontra-se então em crise porque não consegue resolver os problemas transnacionais sozinho nem as crises internas que enfrenta.

   As tensões étnicas: Depois do fim da Guerra Fria, e consequente término do controlo de determinados povos pelos dois blocos, muitos sentimentos nacionalistas emergiram, procurando os povos a sua autodeterminação. Estes nacionalismos exacerbados, traduzidos em vários movimentos opostos dentro de um mesmo território, podem gerar consequências dramáticas que os Estados-nação têm grande dificuldade em resolver: genocídio, refugiados e catástrofe humanitária.
   Na região do Cáucaso, por exemplo, os Tchechenos declararam-se independentes, em 1991, contra a vontade do Governo russo, dando início a um conflito armado; no Afeganistão a influência do bloco sobiético controlou a rivalidade entre as suas 70 etnias, que nos anos 90 despoletaram uma guerra violenta, influenciada também pelo fundamentalismo islâmico dos talibãs, que fez com que grande parte da população fugisse para o Paquistão; a região do Tibete (na República Popular da China) permanece subordinada ao poder central chinês autoritarista, apesar de seguir uma orientação religiosa budista.

   As migrações: Nos finais do século XX e início do séc. XXi, os países desenvolvidos tornam-se nos principais destinos de emigração a nível mundial, orientando-se os fluxos migratórios, sobretudo, do hemisfério sul mais pobre, para os países do hemisfério norte (Europa ocidental e América do Norte), países estáveis a nível político, social e económico. Tal cenário sucedeu devido às condições normais que levam os indivíduos a mudar-se para um território estrangeiro: factores económicos (procura de emprego, fuga à miséria) e políticos (refugiados de países em guerra.
   Ora, os fluxos migratórios intensos colocam novos desafios aos países de acolhimento, aos quais o Estado-Nação nem sempre consegue responder. Estes desafios prendem-se com a capacidade económica de integrar todos os imigrantes no mercado de trabalho nacional e com a luta contra o preconceito racial, que costuma gerar reacções xenófobas nalgumas fatias da população natural desse país e nalguns partidos, reacções estas que geram instabilidade política e social dentro do Estado-Nação. Assim, este problema tenta ser resolvido a nível transnacional, com a existência de várias organizações que tentam promover a interculturalidade entre todos os povos e o respeito mútuo entre estes.

   A segurança: as principais ameaças à segurança global prendem-se com a evolução do armamento e com o terrorismo. Em primeiro lugar, o controlo sobre o armamento, cada vez mais sofisticado, não pode ser feito a nível nacional, mas deve ser feito numa cooperação entre os Estados-Nação. Isto porque o avanço tecnológico permitiu a criação de armas de destruição à escala global (armas nucleares, armas biológicas e armas químicas), sendo de interesse transnacional o seu controlo, e porque a maior parte destas armas circula num sistema de mercado negro, que está entranhado nos territórios mundiais, a nível internacional. No que diz respeito ao terrorismo, que se define como prática de actos de agressão imprevistos e indiscriminados sobre civis com o intuito de ver reconhecidas reivindicações políticas, a partir do atentado feito nos EUA em 2001, tem vindo a criar um clima de insegurança generalizado, por todo o mundo. Por este motivo, os Estados-Nação têm estabelecido, em conjunto, uma série de medidas de segurança que visam a protecção da população e que passam pela vigilância máxima em aeroportos, fronteiras e espaços públicos relevantes.
   Os movimentos terroristas mais conhecidos são: a ETA (organização terrorista basca que reivindica a independência do País Basco em relação a Espanha), a Al Qaeda (organização terrorista de origem afegã e que actua em favor do fundamentalismo islâmico, a quem foi atribuída a autoria dos atentados sobre os EUA, a 11 de Sete,bro de 2001, e sobre Madrid, a 11 de Março de 2004), o IRA (rebelião do Sul, católico, sobre o Norte, protestante, da Irlanda que tomou a forma de uma organização terrorista.

   O ambiente: a questão ambiental ultrapassa fronteiras, pois as atitudes nocivas de um Estado provocam consequências a níel mundial. São vários os problemas que afectam o ambiente desde os anos 80, em resultado do acentuado crescimento demográfico, que exige mais recursos, e da industrialização: o perigo de fuga da radioactividade das centrais nucleares, a destruição da camada de ozono, a extinção de plantas e de seres vivios, a contaminação das águas, as chuvas ácidas, o aquecimento global, etc.
   Deste modo, a prevenção e a solução dos problemas ecológicos depende da capacidade dos Estados-Nação para agir em cooperação, sobrepondo a preservação do ambiente aos interesses económicos e territoriais. As principais decisões mundiais a favor do ambientalismo foram, em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento, que propôs um "espírito de parceria mundial" e um desenvolvimento económico que não constituísse uma pressão demasiada sobre os recursos naturais (desenvolvimento sustentável); em 2001, o Protocolo de Quioto, no Japão, realizado com a intervenção da ONU e que conseguiu que os países, sobretudo os mais industrializados, se comprometessem a reduzir as emissões de gases que provocam o "efeito de estufa", sob a pena de lhes serem impostas sanções (contudo, os EUA, o país mais poluidor do mundo, na altura, recusou-se a assinar o Protocolo); de 7 a 18 de Dezembro de 2009, realizou-se a Conferência de Copenhaga, na Dinamarca, com o objectivo de susbtituir o Protocolo de Quioto, que expira em 2012, e de estabelecer novos níveis de redução dos gases d efeito de estufa.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

A integração de Macau e de Hong Kong no regime chinês


   A abertura da China ao Ocidente, através da adesão dos territórios litorais ao capitalismo, favoreceu as negociações da integração de Macau, colónia portuguesa desde 1557, e de Hong Kong, território sob domínio britânico desde o século XIX.
   Passados alguns anos de negociações, os Ingleses acordaram, em 1984, a transferência da administração de Hong Kong para a China (a partir de Julho de 1997). Este acordo estabeleceu uma "Região Administrativa Especial", com autonomia durante 50 anos após a mudança da sua administração. Os ingleses garantiram a democracia, através da manutenção de instituições políticas para esse fim destinadas, e também a permanência da moeda própria da região, totalmente convertível.
   O mesmo se passou com a colónia portuguesa, Macau: em 1987 celebrou-se o acordo de integração deste território na China, integração esta que se iniciou no dia 20 de Dezembro de 1999. Esta tranferência foi mais serena que a de Hong Kong, não só por ser um território mais pequeno e menos desenvolvido, mas também por Portugal ter comprovado o cumprimento da garantia dos direitos humanos e da democracia na ex-colónia britânica, após a anexação da mesma ao território chinês, princípios estes que a China terá também que respeitar durante os 50 anos estabelecidos após a integração do ex-luso território.
   Com estas descolonizações termina o domínio político britânico e português no Oriente, embora, naturalmente, se tenham vindo a manter ligações afectivas e enriquecedoras entre estas duas culturas, oriental e ocidental.

Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau, 1987

sábado, 8 de maio de 2010

A descolonização de Timor-Leste

   No seguimento da Revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, criaram-se, em Timor-Leste, três partidos: A União Democrática Timorense (UDT), a Associação Popular Democrática Timorense (APODETI) e a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN). Contudo, os seus lideres não chegaram a um consenso e o território timorense não se tornou independente aquando da vaga de descolonizações do pós-25 de Abril.
   Em 1975, o ditador da Indonésia, Mohamed Suharto, dirigiu a invasão a Timor-Leste, obrigando os guerrilheiros da FRETILIN a refugiarem-se nas montanhas. Suharto impôs em Timor um governo autoritário cuja repressão foi alvo da denúncia de Portugal perante a ONU, que, por sua vez, condenou a invasão indonésia ("direito inalienável de Timor-Leste à autodeterminação e à independência", resolução 384 de 1975). Contudo, a posição das Nações Unidas não evitou a anexação de Timor-Leste à Indonésia em 1976.
   A resistência timorense continuou activa nos anos 80, com a liderança de Xanana Gusmão na FRETILIN (desde 1980). Também a pressão do bispo de Díli (D. Ximenes Belo) e a reprovação da CEE foram factores importantes para a resistência ao invasor.
   Só em 1991 é que a questão timorense ganha novos contornos, com a mediatização do massacre de civis que se haviam refugiado no cemitério de Santa Cruz . Em 1992, Xanana Gusmão é preso e, em 1996, D. Ximenes Belo e Ramos Horta (líder da resistência timorense no exterior) recebem o Prémio Nobel da Paz, o que mobilizou a opinião pública internacional.
   Em 1999, o novo ditador indonésio, Jusuf Habibie, aceitou a realização de um referendo à população timorense sobre a independência de Timor-Leste. Apesar da intimidação das milícias favoráveis à integração de Timor-Leste na Indonésia, o resultado do referendo concedeu uma clara vitória à independência. Consequentemente, deu-se uma reacção de violência indiscriminada sobre os timorenses, que só terminou depois do envio de uma força de paz multinacional.
   A 20 de Maio de 2002, foi finalmente criada a República Democrática de Timor-Leste.

   Aqui pode-se ver o vídeo original do massacre no cemitério de Santa Cruz, em 1991.

O dinamismo económico asiático na segunda metade do séc. XX

Décadas de 50-60 - o "milagre japonês"
   O Japão foi o primeiro país a crescer economicamente, sobretudo através do plano Dodge (auxílio económico dos EUA), da estabilidade política, do incentivo de privados e do apoio do Estado, contrariando as consequências negativas da insuficiência de recursos e da destruição causadas pela 2ª Guerra Mundial.

Décadas de 60-70 - os "quatro dragões" (Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Hong-Kong)
   Estes NPI (Novos Países Industrializados) também se depararam com um grande crescimento económico, ao nível da produção automóvel, da indústria naval e das novas tecnologias, devido à utilização de mão-de-obra barata e ao apoio do Estado, que desenvolveu políticas favoráveis à exportação e que investiu no ensino.

Décadas de 70-80 - Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN - composta pela Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Singapura
   Esta associação surgiu em 1967, contudo, foi apenas no anos 70, aquando da crise ocidental da instabilidade monetária e do choque petrolífero, que o Sudeste Asiático começou a servir de mercado de exportação para o Japão e para os "quatro dragões". Em troca, os países da ASEAN forneciam a estes parceiros comerciais matérias-primas e bens de consumo de qualidade inferior.

Décadas de 80-90 - a abertura da República Popular da China e a descolagem económica deste país
   Depois da morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, a República Popular da China passou a ser governada por Deng Xiaoping (até 1997). Apesar de manter em vigor o regime autoritário controlado pelo partido comunista, Deng Xiaoping instaurou uma economia de mercado nas regiões litorais da China, o que gerou o início do grande crescimento económico deste país a partir dos anos 80.
   O Estado chinês transformou algumas cidades em "Zonas Económicas Especiais", livres de tarifas fiscais. Automaticamente, o investimento estrangeiro nessas zonas tornou-se vantajoso, o que levou a que aí se instalassem marcas ocidentais e se desenvolvessem as empresas locais. Para além disto, o desenvolvimento económico chinês deu-se através da mão-do-obra barata, que surgiu devido à migração de camponeses pobres do interior chinês para as cidades industriais em busca de emprego: empregos intensivos (11 a 12 horas por dia, com um ou dois das de descanso mensais), mal pagos e sem regalias sociais.
   Deste modo, o comércio chinês cresceu continuamente, também com a ajuda do clima de reconciliação entre o Japão e os EUA (a partir dos anos 70).
   Apesar de pertencer à ONU e ao FMI e de respeitar a autonomia de Hong-Kong e de Macau, a China manteve, contraditoriamente, um regime político anti-democrático e sem expectativas de mudança (tal como mostrou, em 1989, o massacre aos opositores ao regime na praça de Tiananmen).

   Com estas quatro etapas de desenvolvimento, criou-se na Ásia um sistema de cooperação económica regional que levou ao desenvolvimento dos países de todo o "arco do Pacífico", nascendo assim um terceiro bloco económico capaz de competir com os Estados Unidos e com a Europa.
  


segunda-feira, 3 de maio de 2010

A construção da União Europeia e as dificuldades de uma plena união política



   A união económica da Europa concretizou-se e foi vantajosa para os estados-membros, aumentado a sua riqueza. Contudo, a nível político, surgiram algumas dificuldades para a harmonia desta organização.
   Com o Tratado de Maastricht (1992), implementaram-se as políticas comuns para a justiça, os assuntos internos, a política externa, a segurança e a cidadania europeia. Ora, estes novos domínios comunitários entram em conflito com as políticas nacionais, instalando-se um clima de polémica:
  • Alguns países recusaram-se a adoptar inicialmente a moeda única (Dinamarca, Suécia e Reino Unido), sendo que actualmente a libra ainda resiste;
  • O projecto da criação de uma Constituição Europeia, em 2002, acabou por não ser aprovado devido aos resultados negativos dos referendos realizados em França e na Holanda;
  • A entrada de novos países, de leste, para a UE, ao aumentar ainda mais a diversidade cultural da comunidade, trouxe ainda mais problemas ao bom funcionamento da política comum europeia;
  • O abstencionismo dos cidadãos dos estados-membros no que toca a eleições para cargos nos órgãos comunitários revela também a deficiencia da estrutura política da UE, que aparentemente não se consegue impor como prioridade e solução para a vida dos europeus.
   O auge da união política europeia seria o estabelecimento de um Governo europeu comum, com um presidente europeu. Contudo, este projecto colide com o conceito de Estado-Nação e com a importância que os cidadãos conferem à sua nacionalidade e raízes culturais.



Árbitros mundiais

   Com o final da Guerra Fria, nomeadamente com queda da URSS, os Estados Unidos da América atingiram a supremacia político-militar a nível mundial. De facto, a partir da década de 80, os sucessivos presidentes norte-americanos, conscientes deste facto, definiram a política internacional dos EUA com base no mesmo, intervindo em vários conflitos mundiais:

  • Ronald Reagan (presidente entre 1981-1989) - Ainda em clima de Guerra Fria, deu início a um programa de defesa antimíssil (Guerra das Estrelas). Relativamente à guerra entre Irão e Iraque (1980-1988), este último país contou com o apoio americano, dado que o seu líder (Reza Pahlevi, de orientação pró-americana) havia sido deposto pelo líder espiritual muçulmano (Khomeini) em 1979. Khomeini, durante os anos em que esteve no topo da administração da república iraquiana, contribuiu para o desenvolvimento do fundamentalismo islâmico actual, através da atribuição de um carácter teocrático ao regime repúblicano do Iraque.

  • George Bush (pai) (presidente entre 1989-1993) - interveio na invasão iraquiana ao Kuwait, iniciando a Guerra do Golfo em 1991. Para além disto, apoiou a operação humanitária de desenvolvimento da Somália (1992-1994), na sequência de uma guerra neste território. Tenha-se em conta que a Somália, durante a Guerra Fria, era um território apoiado pelo bloco capitalista.

  • Bill Clinton (presidente entre 1993-2001) - contribuiu para o envolvimento das tropas americanas em vários conflitos, influenciando o curso dos acontecimentos, nomeadamente no Haiti e na ex-Jugoslávia.

  • George Bush (filho) (presidente entre 2001 e 2009) - liderou a invasão ao Afeganistão em 2001, país que alegadamente albergava campos de treino terroristas da facção islâmica dos talibãs, que chegaram ao poder neste país desde 1996. Em 2003, Bush deu início à invasão do Iraque, apoiando-se na suposição de que este escondia armas de destruição maciça.
   Apesar das intenções superficiais americanas, de impor a defesa da liberdade e da democracia, que fundamentam o envolvimento dos EUA em várias guerras de terceiros, estas não impediram o crescimento do anti-americanismo nos últimos anos. Este movimento contra a intervenção internacional americana argumenta que as razões dos EUA são os seus interesses económicos (nomeadamente o controlo do petróleo) e o facto de a economia americana depender do consumo dos seus meios bélicos.
   Em 2001, com o ataque alegadamente terrorista ao World Trade Center, o papel de árbitros/polícias do mundo desempenhado pelos EUA acentuou-se através da intervenção militar no Iraque e no Afeganistão, que tem como fim o desmantelamento da Al-Qaeda.

"Ou está connosco, ou está com os terroristas", George Bush (filho), 2001

terça-feira, 27 de abril de 2010

A supremacia económica e tecnológica dos EUA

   Aos níveis tecnológico e económico, os EUA encontravam-se na linha da frente em relação ao resto do mundo. Este estatuto americano foi conseguido através do progresso, dos já bem desenvolvidos, sectores agrícola, industrial, comercial e tecnológico, progresso este que se pode traduzir em simples cálculos matemáticos:


   Resta ainda refeir que nos EUA, em finais do séc. XX e inícios do 21º século, o sector terciário empregava cerca de 75% da população activa, sector este que era responsável por 70% do PIB americano.


Alterações no ranking mundial na viragem para o século XXI


   O término da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas levou a uma alteração do equilíbrio das forças mundiais.
   Na última década do séc. XX, o desenvolvimento e poderio mundiais concentram-se nos Estados Unidos da América, na União Europeia e na região da Ásia-Pacífico. Estas potências detêm a maior fatia das exportações mundiais e os Produtos Internos Brutos mais elevados por habitante.
   Com a ausência do rival bloco soviético, os EUA tomam, finalmente, o lugar de primeira potência mundial.
  

domingo, 25 de abril de 2010

O fim do sonho soviético

   Na década de 80, o regime comunista  da URSS encontrava-se em declínio. O controlo económico estatal e a excessiva burocracia impediam o desenvolvimento económico, o modelo económico de planos quinquenais resultavam na ausência de competitividade, as liberdades individuais eram apenas teóricas, a política estava nas mãos do Partido Comunista, o apoio financeiro aos países que se situavam na órbitra do bloco soviético representava um pesado encargo ao nível económico e militar, os cidadãos careciam de boas condições de vida e a corrida aos armamentos nucleares ameaçava a segurança mundial e exigia grandes investimentos por parte da União Soviética. Todos estes factores contribuíram, então, para esse declínio.
   Para combater tal cenário, Mikhail Gorbatchev (secretário-geral do Partido Comunista da URSS desde 1985), delineou um plano abrangente - perestroika (reestruturação) - com o objectivo de acelerar o progresso social e económico da União Soviética. Economicamente, a perestroika fomentava a iniciativa privada e a descentralização da economia, permitindo que a livre-concorrência servisse de estímulo à produção, contrariando a política económica de planos quinquenais e de nacionalizações totais. O objectivo era "satisfazer as aspirações do povo soviético a melhores condições de vida e de trabalho, a melhores lazeres, a uma melhor educação e a melhores cuidados médicos".  Politicamente, a prioridade de perestroika consistia no combate à corrupção e à censura, através da transparência, e ainda na aproximação do Ocidente, no desarmamento do país e na democratização do regime político (eleições livres). Neste seguimento,  Gorbatchev e o presidente norte-americano Ronald Reagan assinam o Tratado de Washington, para a destruição de armas atómicas. Para além disto, Gorbatchev encara positivamente a libertação dos países de Leste do controlo soviético, embora acreditasse ainda na preservaç´~ao da unidade da antiga URSS, dado que em 1991 tentou travar militarmente o processo independentista, opondo-se ao presidente Boris Letsin.
   Este clima de abertura política ba União Soviética facilitou a constestação aos regimes comunistas implantados no bloco de Leste. Apoiada na ideia de Gorbatchev, segundo a qual "as nações não podem nem devem decalcar a sua vida sobre o modelo dos Estados Unidos ou da União Soviética", a URSS não interveio militarmente para silenciar as rebeliões, pelo que em praticamente todos os países do Leste Europeu os líderes ligados à URSS foram depostos (Checoslováquia, Roménia, RDA e Polónica, onde Lech Walesa opôs-se ao regime comunista através do sindicato independente Solidarnosc).1991 assinalao fim do bloco soviético. Os países da Europa Central e Oriental tinham novas constituições - a democratização dos mesmos estava em curso.
   As alterações politico-geográficas resultantes da falência da União Soviética foram as seguintes:

  • o território da URSS deu lugar, em 1991, à CEI (Comunidade de Estados Independentes), composta pela Arménia, pelo Azerbaijão, pela Bielorrússia, pelo Cazaquisrão, pela Moldávia, pelo Quirquistão, pela Rússia, pelo Tajiquistão, pelo Turquemenistão, pela Ucrância, pelo Usbequistão e pela Geórgia (que se junta em 1933). Os Estados Bálticos (Estónia, Letónica e Lituância) não integraram a CEI. A criação da CEI levou à demissão, em 1991, de Gorbatchev do cargo de presidente da URSS, após ter visto fracassar o seu projecto de criar a URS (União das Repúblicas Soberanas);

  • A reunificação alemã foi negociada em 1990, através de um tratado entre as partes com direitos de soberania sobre o território - a RDA, a RFA, a Inglaterra, os Estados Unidos, a França e a URSS;

  • a Checoslováquia dividiu-se em duas Repúblicas - República Checa e Eslováquia;

  • a transformação da Jugoslávia na República Federal da Jugoslávia deu origem à independência da Eslovénia, da Croácia, da Bósnia-Herzegovina e da Macedónia nos anos de 1991-92.
   A rápida transição de um regime económico socialista para o capitalismo nos países anteriormente ligados à URSS (países do Leste europeu), provocou uma desorganização económica acentuada nos mesmos. Os salários não acompanharam a rápida subido dos preços dos bens de consumo, o que resultou na perda do poder de compra dos cidadãos; as empresas despediram muitos assalariados, tendo em vista o lucro; a privatização de várias empresas do Estado foi feita através de meios corruptos; as moedas nacionais desvalorizaram. Desta feita, os PIB's dos países de Leste diminuíram vertiginosamente nos anos noventa. Contudo, os produtos da sociedade de consumo, cuja importação era proibida durante o regime comunista, entraram massivamente nos países de Leste, sendo adquiridos apenas pelos cidadãos mais ricos - esta situação agravou o défice comercial destes países. As excepções a este retrocesso económico foram a República Checa, a Hungria, a Polónia e a ex-RDA, que registaram uma evoluição económica positiva na década de 90, devido a uma conjuntura política favorável e ao investimento externo (sobretudo da comunidade europeia na Polónia).


Transformações sociais e culturais nos anos 50, 60 e 70

sexta-feira, 16 de abril de 2010

25/04/1974

   Do Movimento dos Capitães, um grupo de oficiais do exército português formado em Julho de 1973, partiu a iniciativa para a Revolução de 25 de Abril de 1974. Este grupo revolucionário foi liderado por Costa Gomes (chefe do Estado-Maior das Forças Armadas) e por António de Spínola (vice-chefe do Estado-Maior das Forlas armadas).
   As razões que levaram estes militares a planearem uma revolução prendiam-se, oficialmente, com a questão da promoção na carreira dos oficiais milicianos (que não haviam frequentado a Academia Militar). Contudo, outro motivo mais profundo serviu de mote ao 25 de Abril de 74: os militares exigiam uma solução política para a questão colonial, que esgotava 40% do orçamento de Estado e que implicava a morte e desaparecimento de centenas de portugueses. Para estes oficiais do exército, a solução para o problema colonial consistia na "democratização do país", elegendo instituições que representassem a vontade do povo.
   Depois da destituição de Spínola e de Costa Gomes, em Março do ano revolucionário, o Movimento dos Capitães passa a designar-se por Movimento das Forças Armadas (MFA) e prepara o golpe militar que irá derrubar o Estado Novo com o objectivo de implantar uma democracia política.
   A Otelo Saraiva de Carvalho coube a função de master mind da revolução, concebendo o plano das operações militares e orientando a sua execução a partir do posto de Comando da Pontinha (Lisboa). O sinal foi dado pelas canções-senha, via rádio: E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho (22:55h de 24 de Abril) e Grândola, Vila Morena, de José Afonso (0:25h de 25 de Abril).
   Posteriormente, sem qualquer resistência, o MFA ocupou os principais pontos estratégicos da cidade de Lisboa.
   Outra personalidade indispensável à revolução foi o capitão Salgueiro Maia, que dialogou com as forças fiéis ao regime marcelista (e que acabaram por aderir à revolta) e que dirigiu o cerco ao Quartel do Carmo. onde se encontrava Marcello Caetano. O presidente do Conselho aceitou render-se ao general António de Spínola, que chegou ao local às 17:30h do dia 25 de Abril.
    Às 19:50h, o Movimento das Forças Armadas anunciou a queda do regime através da RTP.



domingo, 11 de abril de 2010

As contestações relativas ao impasse colonial

   No início a década de 70, vislumbrava-se um impasse na guerra colonial. Nem as Forças Armadas portuguesas, nem as forças militares africanas conseguiam estabelecer uma supremacia no território, necessária para a proclamação de vitória. A legislação portuguesa intensificou este impasse, através do plano de revisão do estatuto das colónias que Marcello Caetano traçou e que fora incorporado na revisão constitucional de 1971 e na Lei Orgância do Ultramar português de 1972, não trazendo quaisquer alterações de base nem perspectivas de autonomia colonial.
   Este impasse colonial era prejudicial ao país: a guerra esgotava recursos naturais e 40% do orçamento de Estado, envolvia o risco de morte dos cidadãos nacionais (7% da população masculina portuguesa foi chamada a intervir na guerra) e favorecia o crescimento da contestação interna e externa.
    A nível externo, a guerra do Ultramar trazia a contestação da ONU (que em 73 reconhece a independência da Guiné-Bissau) e o descrédito dos EUA e da Inglaterra relativamente a Portugal, já que os EUA propuseram ao Estado português diversos planos de descolonização que foram recusados, e também porque a reacção da visita de Marcello Caetano ao Reino Unido em 1973 não poderia ter sido pior: os ingleses manifestaram-se com indignação contra ummassacre realizado em Moçambique pelas tropas portuguesas.
   Relativamente à constestação a nível interno, há a referir o aparecimento de alguns grupos de católicos (católicos progressitas), que se desviaram do apoio da Igreja ao regime, criticando a ditadura e a guerra colonial (como foi o caso do então bispo do Porto - D. António Ferreira Gomes). O auge da oposição da Igreja Católica face aos regime ditatorial deu-se aquando da recepção pelo Papa Paulo VI aos líderes dos movimentos independentistas africanos. Há ainda a apontar o "golpe de Botelho Moniz", o ministro da Defesa que, em 1961, com o apoio do ex-presidente da República, Craveiro Lopes, exigiu a Américo Thomaz a demição de Salazar - atitude que lhe trouxe retaliações a nível profissional. Também em 1962, Manuel Homem de Melo publica Portugal, o Ultramar e o Futuro, onde é defendida uma solução federalista para as colónias (cada colónia seria um Estado federado com Assembleia Nacional, governo e tribunais próprios. Por fim, resta destacar, no que toca à contestação interna, que nos anos 70, muitos militares das Forças Armadas (um número que ia aumentando) defendiam a impossibilidade de Portugal vencer a guerra e temiam ser apontados por fracasso militar, a tal ponto que, em 1974, o general António de Spínola publica Portugal e o Futuro - uma obra onde explanava as razões que tornavam inevitável a "autonomia dos territórios ultramarinos".
   Perante toda esta contestação, a tese de Marcello Caetano - segundo a qual os povos da Guiné, de Angola e de Moçambique não queriam a independência de Portugal, tratando-se de guerrilhas de "selvagens assassinos e violadores", apoiados por "potências estrangeiras que esperavam vir a recolher o espólio de uma capitulação de Portugal- tornava-se incomportável.
General António de Spínola
  

sábado, 20 de março de 2010

Colonialismo, crescimento económico e a repressão em Portugal, do pós-guerra até ao início dos anos 70

Aconselho à visualização do vídeo directamente no Youtube. Por alguma razão, que me escapa, o vídeo aparece aqui cortado na margem direita.

domingo, 14 de março de 2010

A crise económica dos anos 70

  
    A crise económica dos anos 70 deveu-se á instabilidade monetária e à crise energética.
   Os 30 anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial caracterizaram-se pela reconstrução e pela prosperidade, graças á ajuda financeira dos EUA. Contudo, o excesso de dinheiro que o Estado americano colocou em circulação para colmatar as despesas da recontrução e da corrida aos armamentos e para investir noutras áreas, gerou o fenómeno da inflação e, consequentemente, a estagnação económica. Em 1971, a medida do presidente Nixon, que consistiu na interrupção da convertibilidade do dólar em ouro, fez despoletar a crise.
   Para além disto, a crise de 70 foi originada pela crise energética. Com a criação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), os países produtores de petróleo tornaram-se independentes das grandes companhias petrolíferas ocidentais. Assim, em 1973, com total autonomia, a OPEP sobe o preço de venda de petróleo para o quádruplo, numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel (países criado pela ONU para albergar os judeus) na guerra israelo-palestiniana.
   A crise dos anos 70 não é comparável à Grande Depressão dos anos 30, dado que a a crise de 70 se revelou menos grave, devido à menor contracção do poder de compra das populações e do comércio internacional, comparativamente à crise financeira anterior.

O neocolonialismo no Terceiro Mundo e o Movimento dos Não-Alinhados

Terceiro Mundo (expressão criada por economistas franceses em 1952): países menos desenvolvidos do planeta, onde a população, muito numerosa, é maioritariamente pobre, a tecnologia é atrasada, os cidadãos têm difícil acesso a bens essenciais, a taxa de mortalidade infantil é mais elevada e a esperança média de vida é mais baixa do que no mundo desenvolvido.

   A segunda vaga de descolonizações deu-se nos ditos países de Terceiro Mundo, sobretudo africanos, entre 1955 e 1965. A descolonização destes países deu-se devido à acção de movimentos nacionalistas dentro das colónias e ao apoio da Organização das Nações Unidas, que defendia o princípio da auto-determinação dos povos.
   Apesar de muitas colónias africanas terem conseguido a independência, esses países africanos passaram a ser economicamente dominados pelos países mais ricos, sobretudo URSS e EUA, que exploraram os recursos naturais desses países, dando-se o fenómeno do neocolonialismo. Através do neocolonialismo, os países desenvolvidos conseguiam manter baixos os preços das matérias-primas que adquiriam aos países pobres, vendendo-lhes, a preços elevados, os produtos industriais.
   Perante a situação de disputa entre os EUA e URSS devido à influência económica sobre os países do Terceiro Mundo, em 1955, cinco estados asiáticos, reunidos na Conferência de Bandung, frisaram a sua intenção de não alinhar com nenhum dos dois blocos, afirmando a "recusa em recorrer a alianças de defesa colectiva destinadas a servir os interesses particulares das grandes potências, quaisquer que elas sejam". Esta conferência contribuiu para o acréscimo dos processos de descolonização.
   Em 1961, foi criado o Movimento dos Não-Alinhados, que procurava dar continuidade às causas da Conferência de Bandung, mostrando a sua independência face ao contexto de bipolarismo económico da Guerra Fria. Este movimento foi crescendo em número de países-membros, ao longo dos anos. Contudo, por meios mais subtis, o neocolonialismo foi-se infiltrando nas políticas económicas dos mesmos.



terça-feira, 9 de março de 2010

A formação da Comunidade Económica Europeia

A ruptura chinesa com o bloco soviético

   Em 1949, Mao Tsé-Tung implantou um regime de carácter socialista em território chinês, fundando a República Popular da China. Este regime maoísta tinha características particulares, que ajustavam os valores marxistas-leninistas à realidade chinesa. Mao Tsé-Tung pretendia então implantar um socialismo baseado na acção dos camponeses e não do proletariado, como a doutrina marxista-leninista defendia.
   Para tal, Mao Tsé-Tung incrementou várias medidas que tinham em vista o desenvolvimento de um país agrário e não indústrial, isolado da realidade russa e do restante mundo. Em vez de aplicar medidas económicas na indústria pesada, como a URSS, Mao direccionou a sua acção para o sector agrícola, fazendo em 1985, uma reforma económica («o grande salto em frente»), que tinha como objectivo o fomento da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido Comunista chinês. Contudo, esta reforma não teve sucesso devido à escassa existência de meios técnicos e aos métodos de trabalho antiquados. Para além disto, Mao Tsé-Tung, em vez de servir Moscovo, tal como os restantes países dominados pela URSS, estabeleceu ele mesmo os fundamentos de um socialismo nacionalista na China, criticando a acção politica de coexistência pacífica de Kruchchev.
   Por todas estas divergências económicas e ideológicas, em 1960, China e URSS rompem as ligações que até então haviam esabelecido.
   Em 1964 deu-se a chamada "Revolução Cultural", que intensificou o culto a Mao e à sua ideologia particular do socialismo. A Revolução Cultural consistiu num movimento que pretendeu exterminar todas as manifestações culturais (literatura, arte, ensino) que fossem conra o maoísmo e que propagandeava esta doutrina como sendo a "verdade absoluta" e cujos princípios estavam expostos no "Livro Vermelho", que reunia citações de Mao. Esta Revolução Cultural originou bastante agitação social e excessos de mortes e humilhações de cidadãos considerados conra-revolucionários.
   Esta ruptura da URSS com a China permitiu a aproximação do bloco capitalista do território chinês, sendo que, em 1971, o presidente norte-americano, Nixon, visita este país. No seguimento desta visita, a China torna-se membro da ONU neste mesmo ano.

O "Livro Vermelho", com citações de Mao Tsé-Tung

sexta-feira, 5 de março de 2010

O milagre japonês

  
   A participação do Japão na Segunda Guerra Mundial implicou pesados custos humanos e materiais. Como se sabe, as populações de Hiróxima e Nagasáqui foram dizimadas pela bomba atómica, sendo que o restante território japonês também sofreu danos materiais severos por causa da guerra. Perante estas condições, o Japão acabou por ficar sob a autoridade dos EUA. Para além da devastação causada pelo segundo conflito mundial, o Japão era um país pobre em solos aráveis e em recursos naturais, tendo que importar carvão, gás e petróleo para a indústria. Socialmente, o Japão vivia num regime hierarquizado, submetido ao imperador e à nobreza.
   Perante todos estes factores, o Japão vivia uma grave crise económica após a Segunda Guerra Mundial. Contudo, quase miraculosamente, o Japão recupera, conseguindo nos anos 70, o terceiro lugar de potência mundial, a seguir aos EUA e à URSS.
  Ora, este milagre deveu-se à ajuda americana, à estabilidade política, aoss investimentos privados e ao papel social das empresas.
   Enquanto ocuparam o Japão, os americanos ajudaram economicamente  este país, através do Plano Dodge, e ainda a nível social, já que os EUA aboliram a nobreza, fizeram aprovar a Constituição de 1945 e incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino.
   Politicamente, o Japão tornou-se estável a partir da subida ao poder, em 1955, do Partido Liberal-Democrata.
   Para além disto, houve muita iniciativa privada na indústria, sobretudo na indústria pesada e de bens de consumo (numa primeira fase, de 1955 a 1961) e na indústria automóvel, siderurgia e produção de televisores (segunda fase, entre 1966-1971).
  Outro factor preponderante foi o incentivo do Estado, nos anos 60, na formação científica, que se traduziu num grande avanço tecnológico.
   Finalmente, o papel protector das empresas em relação aos seus empregados resultou num aumento da produtividade e em fracos índices de contestação social, apesar dos baixos salários.
   Todos estes factores contibuiram então para que em 1973, 80% do mercado das câmaras de filmar fosse de origem japonesa.

  

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Armas esp(e)/(a)ciais

   Numa atmosfera de tensão entre os EUA e URSS, perante a iminência de uma terceira guerra mundial, estes dois blocos antagónicos realizaram avultados investimentos na indústria bélica. No primeiro período posterior à 2ª Guerra Mundial, os EUA revelavam uma superioridade nos índices de desenvolvimento bélico: nesta altura apenas este país possuía a bomba atómica. Contudo, rapidamente a URSS atingiu este patamar, dando uso à sua bomba atómica em 1949. Como resposta, em 52, os EUA testam a primeira bomba de hidrogénio (com uma potência mil vezes superior à velha calamidade atómica). Como seria de esperar, um ano depois, os soviéticos passam também a possuir esta inovação. Tudo isto levou a uma superprodução de armamento nuclear e de armas convencionais, quer nos EUA, quer na URSS. Para além disto, também as forças aéreas, terrestres e navais foram desenvolvidas.
   Os avanços na indústria bélica conferiram um poder de destruição a grande escala às novas armas, sendo que, por esta razão, a política mundial, a partir dos anos 50, adquire uma característica dissuasiva. Cada um dos blocos procurava convencer o oposto de que a qualquer momento, em caso de intromissão nos respectivos territórios, não hesitaria em usar o seu armamento. Às evoluções bélicas americana e soviética não se adivinhava um fim, mas uma continuidade exacerbada. 
   Todo o empenho no alcance da superioridade tecnológica passou do ramo bélico para a ciência. Em Outubro de 1957 a URSS coloca em órbitra o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, lançando em Novembro do mesmo ano o Suptnik 2 (a boleia de Laika para fora da atmosfera terrestre). Naturalmente, os EUA, em 1958, perante o sucesso russo, tentam superar o bloco comunista através do lançamento fracassado de um foguetão, que acabou por explodir. Só com o lançamento do Explorer 1, no mesmo ano, é que a ciência americana consegue ser bem sucedida neste domínio. Soava então, por esta altura, o tiro de partida na corrida ao Espaço.
   Nos anos seguintes, a conquista do espaço tornou-se um objectivo necessário à afirmação de cada potência. No início dos anos 60, os russos estavam à frente, tendo conseguido tornar Yuri Gagarin no herói nacional que conseguiu ser primeiro humano a viajar na órbitra terrestre (1961). No entanto, no final da mesma década, os EUA ultrapassam os socialistas, com a primeira pegada humana na superfície lunar por Neil Armstrong.
   Que se conclui desta História? Para além de comprovar que o lema de defesa de duas ideologias distintas passa por "não olhar a meios para atingir fins", também nos revela os prós e contras do progresso científico.
   Tecnologia: tanto nos pode levar e pensar que estamos nas nuvens (literalmente), como nos pode levar a pensar e sentir o que é ser arrasado em milésimos de segundo por uma substância inofensiva que, quando detonada, descreve a bonita forma de um cogumelo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

As alianças na Guerra Fria

  
   Durante o período da Guerra Fria, EUA e URSS protagonizaram uma corrida aos armamentos, devido a um clima de desconfiança e rivalidade gerado pelo desejo de expansão das respectivas doutrinas pelo mundo (capitalismo e socialismo).
   Por estes motivos, na possibilidade da ocorrência de um conflito armado, surgiram várias alianças político-militares, nas quais se destacam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e o Pacto de Varsóvia. A primeira aliança foi feita, em 1949, entre vários países capitalistas, destacando-se a adesão dos EUA, que dominavam os restantes. Já a segunda, criada em 1955, disse respeito ao bloco socialista, dominado pela URSS. Estes pactos, muito semelhantes entre si, definiam, em traços gerais, o auxílio dos signatários dos tratados a um país membro que tivesse sido invadido pelo bloco oposto, num contexto de tensão entre o bloco comunista e capitalista/democrático.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Guerra Fria

   Guerra Fria: entende-se como o clima de tensão internacional que se deu no mundo entre o final da Segunda Guerra Mundial e meados dos anos 80. Esta tensão foi motivada pela hostilidade entre dois pólos, os EUA e a URSS, com ideologias opostas (capitalismo e socialismo, respectivamente),
   A oposição entre as duas potências, que não chegou a tomar forma de um conflito armado, deu-se através de:
  • propaganda política junto das populações de um determinado modo de vida de um bloco, denegrindo o modo de vida do bloco oposto;
  • intromissão dos EUA e da URSS na política internacional, nomeadamente nos conflitos armados localizados, de modo a expandirem territorialmente a sua ideologia;
  • desenvolvimento dos armamentos (arsenal nuclear).

Alemanha: o primeiro grande foco de tensão entre os dois blocos

   Esta tensão consistiu na discussão entre a URSS e as potencias capitalistas (EUA,Inglaterra e França) relativamente ao destino da Alemanha e de Berlim após a Segunda Guerra Mundial, dado que com a Conferência de Postdam ficou decidido que o território alemão seria ocupado quadripartidamente.
   Na tentativa de travar a influência soviética em terreno alemão, a França, o Reino Unido e os Estados Unidos reuniram, em 1948, as suas três zonas de ocupação, criando a República Federal Alemã (RFA). Em resposta, a URSS criou a RDA (República Democrática Alemã).
   Esta divisão da Alemanha deu origem ao bloqueio de Berlim, dado que esta cidade estava situada em plena RDA, encontrando-se também dividida em quatro partes territoriais (URSS, EUA, Inglaterra e França). Para combater a influência capitalista em Berlim, Estaline aproveitou a situação geográfica da cidade e impediu qualquer ligação entre a RFA e Berlim, dando-se o bloqueio continental. Porém, os EUA abasteceram a cidade por via aérea, rompendo o bloqueio, que foi levantado em 1949 através de um acordo entre URSS e EUA.´
   A Alemanha permaneceu então dividida entre RDA e RFA, «simbolizando a divisão política do mundo em dois blocos ideologicamente antagónicos», o bloco capitalista e o bloco socialista.


Descolonização dos anos 40

Espero que apreciem bastante.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Plano Marshall

Plano Marshall (1947): injecção americana de cerca de 14 000 milhões de dólares nos países beneficiários europeus, tendo como objectivo oficial a recuperação europeia no pós-guerra. E, de facto, esta iniciativa americana ajudou à recuperação económica da Europa. Este plano foi anunciado pelo secretário de Estado norte-americano, George Marshall (este senhor, abaixo representado).


   No entanto, esta ajuda financeira trouxe consigo a problemática da dependência da Europa face aos EUA (neo-colonialismo), questão levantada pelos partidos europeus de esquerda, e ainda a questão da interferência americana no bloco soviético da Europa de Leste, no contexto de Guerra Fria, sendo este um dos momentos mais quentes desta tensão entre as duas potências. Naturalmente, a URSS recusou o plano Marshall e recorreu a um plano alternativo para ajudar os países do seu bloco, o Plano Molotov, criado no âmbito do COMECON (Conselho de Ajuda Económica Mútua).



A Conferência de Bretton e a nova matriz económica

   Reunidos em Bretton Woods, nos EUA (1944), vários economistas, das mais variadas nacionalidades, reuniram-se com o fim de definir estratégias económicas a implementar no pós-guerra, de modo a estimular o comércio com base em moedas estáveis.



  • Fundo Monetário Internacional (FMI): aconselha os bancos centrais de cada país e presta assistência financeira a países com dificuldades.

  • Sistema Monetário Internacional: garante a estabilidade das moedas, indispensável ao incremento das trocas,assentado o dólar como moeda-chave. As restantes moedas passaram a ter uma paridade fixa relativamente ao ouro e ao dólar, já que o Tesouro dos EUA garantia a conversão do dólar em ouro.

  • Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD ou Banco Mundial): destinado a financiar projectos de fomento económico a longo prazo.

  • Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT): foi o resultado da idealização de um organismo que negociasse a redução de tarifas alfandegárias entre os diversos países.
Nota: FMI, BIRD e GATT (actualmente - Organização Mundial do Comércio), são organismos que integram a ONU.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A Organização das Nações Unidas

   Com a 2ª Guerra Mundial o mundo assistiu mais uma vez a um tremendo cenário de violência, morte e destruição. Cenário este causado pelo crescimento desmedido do fascismo na europa, provavelmente apenas combatível por meio da violência.
   Perante a ineficácia e o adormecimento da Sociedade das Nações (instituição cheia de grandes intenções em 1919) relativamente à emergência dos autoritarismos europeus e devido à sua função meramente económica, a Europa (Inglaterra e França), os EUA, a URSS e a China (potência emergente) criam a Organização das Nações Unidas, em 1945, com um papel semelhante ao da SDN, contudo mais abrangente e (a priori) eficaz.
   Os objectivos que presidiram à criação desta organização (expostos na Carta das Nações Unidas) foram, então, os seguintes:

   Para fazer cumprir estes objectivos, foram criados os seguintes organismos, inseridos nesta organização mundial:

  • O Conselho de Segurança - Pode decidir sanções económicas e a intervenção militar da ONU, agindo mais directamente na preservação da paz. Este organismo é composto por 15 membros, 5 dos quais permanentes (EUA, China, Rússia, Reino Unido, França). As decisões do Conselho de Segurança têm como condição a unanimidade: se um dos membros vetar uma resolução, essa decisão é bloqueada.

  • A Assembleia Geral - Este organismo debate os assuntos de interesse da ONU (como se fosse uma espécie de Parlamento) e pode ainda decidir o envio de forças militares para uma dada região, mesmo que o Conselho de Segurança vete tal decisão. A Assembleia Geral é composta por um representante de cada país do Mundo.

  • O Conselho Económico e Social - tem por objectivo fomentar a cooperação económica, social e cultural, actuando por meio de agências especializadas (como a UNICEF - Fundo de Assistência à Infância - e a UNESCO - Organização para a Educação, Ciência e Cultura).

  • O Secretariado-Geral - exerce funções diplomáticas na resolução de conflitos mundiais. Este órgão é proposto pelo Conselho de Segurança e eleito pela Assembleia Geral, para um mandato de 5 anos, que pode ser renovado.

  • O Tribunal Internacional de Justiça - destina-se a resolver, pacificamente, os conflitos entre os povos, garantindo o respeito pelo Direito Internacional.

  • O Conselho de Tutela - administrava os territórios entregues à ONU até 1944. Posteriormente a esta data, este organismo reúne apenas ocasionalmente, dado que já não tem territórios sob a sua tutela.