quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As principais características do vanguardismo pitoresco do séc. XX

   Nos inícios do séc. XX, revolucionando a arte europeia, surgiu um conjunto de vanguardas artísticas que rompiam com o conceito de pintura do séc. XIX.
   Apesar das suas diferenças, os movimentos artísticos do séc. XX tinham vários aspectos em comum que conferiram, de certo modo, uma unidade à arte pitoresca do vigésimo século, que se libertava do Realismo oitocentista sobretudo devido ao aparecimento da fotografia.
   Nisto, apontam-se os seguintes aspectos comuns às várias vanguardas da pintura modernista europeia do séc. XX:

   - A reivindicação da criatividade e liberdade artística contra as regras artísticas convencionais leccionadas nas mais conceituadas escolas de arte da época;

   - A ausência de imitações puras da realidade sensorial;

   - A influência de novas correntes científicas, como o relativismo de Einstein, com o seu conceito dinâmico de tempo e espaço, e a psicanálise de Freud, que conferia um papel importante ao inconsciente humano;

   - A afirmação da emotividade/ideais do artista nos objectos de arte;

   - A substituição do estaticismo do séc. XIX pelo dinamismo pitoresco;

   - O desprezo por regras convencionais da pintura (a utilização de materiais inovadores, a destruição da perspectiva e a ousadia das cores puras ou das cores neutras);

   - A inspiração na arte de outros continentes, sobretudo no registo artístico africano.




 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gustave Courbert (1819-1877), Cortadores de Pedras   (exemplo do Realismo do séc. XIX)


Joan Miró (1893-1983), O Peixe Cantor   (exemplo da vanguarda surrealista do séc. XX)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Alimentando o ócio

   Com a Primeira Guerra Mundial, os indivíduos que presenciaram tal desastre humano consciencializaram-se, ao lidar com a morte e destruição, que tudo o que existe terá um fim. Era necessário viver-se o presente, esquecendo-se o passado e não pensando muito no futuro. Assim, no pós-guerra, em contraste com a previdência da burguesia do séc. XIX, surge a cultura do ócio pelas classes médias e altas. Foram os "loucos anos 20", em que os tempos livres se caracterizavam por um fervilhar de vida em clubes de dança, teatros,  cinemas, esplanadas. Surgem as primeiras estrelas de cinema, nasce o culto à música jazz, o desporto impõe-se.
   Os hábitos e gostos generalizam-se então devido à concentração urbana, que originou o conceito de enriquecimento cultural através da prática de certos hábitos sociais aquando dos tempos livres.



A emancipação feminina

   Direito ao voto, emprego, moda. Estes são conceitos que passaram a fazer parte do dicionário feminino a partir dos anos 20: uma transformação de mentalidades consequente do final da Primeira Guerra Mundial.
   Devido á escassez de homens na população activa, uma consequência da necessidade militar de enviar soldados para as frentes da Primeira Grande Guerra, as mulheres começaram a ter lugar nos tecidos industriais da Europa. E como quem tem trabalho merece ter opinião nas políticas que influenciam o mesmo, após a guerra,  algumas mulheres lutaram afincadamente em prol da igualdade de géneros, nomeadamente a igualdade em termos de direito de voto. Assim, nos inícios do 20º século, as sufragistas conquistam o direito de voto em países como a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos. Para além disto, o facto de as mulheres ingressarem no mundo do trabalho promoveu a libertação das mesmas em relação aos seus maridos, porque se tornam monetariamente independentes.
   Esta independência monetária e a confiança trazida por uma igualdade quase alcançada foram o mote para uma revolução na moda, cuja base se caracterizava pela imitação do Homem, o símbolo da independência social, e pela liberdade de movimentos, dado que certos trajes femininos tradicionais não permitiam uma adaptação produtiva aos novos locais que pertenciam à rotina das mulheres da sociedade europeia do pós-guerra. Neste seguimento, as mulheres abandonam o espartilho, sobem as suas saias acima do tornozelo (ou até do joelho), cortam o cabelo "à la garçonne" (bastante curto), passam a frequentar pólos sociais outrora  frequentados exclusivamente por homens e imitam certos comportamentos destes últimos, como, por exemplo, fumar.
  

domingo, 18 de outubro de 2009

A explosão autoritarista dos anos 20

   Na Europa, depois da 1ª Guerra Mundial, o demoliberalismo regride, dando lugar ao aparecimento de projectos políticos de extrema-esquerda e de extrema-direita, apoiados pelas populações.
   O aparecimento de novas revoluções de esquerda na Europa deve-se sobretudo à vitoria dos bolcheviques na URSS, que provou a possibilidade de o operariado se tornar a classe dominante, dando assim esperança a milhões de trabalhadores europeus. Destas revoluções destacam-se, apesar do seu fracasso, o espartaquismo em Berlim (1918) liderado por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht e ainda a revolta de camponeses sem terra e operários em Itália (1919-1920).
   No extremo oposto, surge o grande apoio de vários países europeus a  movimentos de extrema-direita, no âmbito da devastação que a Primeira Guerra provocou sobre a Europa. A inflação, que atingiu muitos países, traduziu-se em grandes dificuldades de subsistência da população. A agitação social era constante devido à proliferação dos ideais comunistas, dado que as greves e manifestações diminuíam a produtividade das empresas. As constantes lutas entre partidos demoliberais provocavam o descrédito do povo em relação ao regime parlamentar. Depois da desorganização financeira, instabilidade política e perdas demográficas trazidas pela guerra, os europeus já não acreditavam na esperança outrora incutida pelos «14 pontos» do presidente norte-americano Wilson. Para além disto, os capitalistas (classes alta e média) viviam com medo do bolchevismo e das suas nacionalizações radicais, pelo que apoiavam as ideologias fascistas. Este antibolchevismo crescia na Europa à medida que na Rússia o socialismo tomava uma feição mais dura, como resultado da Komitern (III Internacional Comunista), em que se proclama o modelo da Rússia como o único a seguir pelos restantes países,  rompendo-se com as ideologias reformistas. Com tudo isto, surge então uma vaga de fascismos na Europa, em que se destacam o movimento de Mussolini, os camisas negras, em 1922 na Itália, o golpe de estado de Hitler na Alemanha (1923) e a ditadura do general Primo de Rivera, em Espanha (1923-1930).


Benito Mussolini e Adolf Hitler

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Nova Política Económica: uma contradição necessária do marxismo-leninismo

   Com o comunismo de guerra, nomeadamente em 1921, a economia russa estava na ruína. A produção de cereais desceu para metade da de 1913 porque os camponeses não produziam, escondiam ou destruíam as suas colheitas, e também porque em 1920-21, a Rússia se deparou com um Inverno difícil e um Verão seco. Para além disto, nas cidades a produção industrial diminuíu cerca de 3/4 em relação a 1913, as minas estavam inutilizadas e os caminhos-de-ferro paralizados.
   Perante estas condições, e porque o comunismo se caracterizava também pelo progresso económico (e não apenas pelo progresso dos sovietes), Lenine aplica algumas medidas de cariz capitalista a partir de 1921, com o objectivo de estimular a produção russa (Nova Política Económica):
• Em vez de obrigar os camponeses a entregar todos os excedentes de cultivo, estabeleceu um imposto a pagar em géneros;
• Permitiu que os camponeses vendessem directamente os seus produtos no mercado interno;
• Devolveu as pequenas empresas ao controlo privado;
• Aceitou a ajuda do estrangeiro em investimentos, maquinaria, matérias-primas, técnicos;
• Eliminou o trabalho obrigatório.
    A NEP, aplicada entre 1921 e 1927, acabou por resultar numa melhoria assinalável dos níveis de produção agrícola e industrial, como podemos constatar no gráfico.


O comunismo de guerra: ditadura do proletariado e centralismo democrático


   Inspirado nas ideias de Marx, Lenine defendia que a instauração de uma sociedade sem classes, o comunismo, que teria de passar previamente por uma etapa designada por ditadura do proletariado.
Na Rússia, o conjunto de medidas conducentes à instauração da ditadura do proletariado tomou o nome de comunismo de guerra. Efectivamente, estava em curso, desde 1918, uma guerra civil entre os russos que se opunham aos decretos revolucionários (brancos) e os russos bolcheviques (vermelhos), cuja vitória pertenceu ao exército vermelho.
   O comunismo de guerra sucedeu à democracia dos sovietes, substituindo os decretos revolucionários ( o decreto sobre a paz, que propunha a todos os povos em guerra a paz exigida pelos operários e camponeses russos; o decreto sobre a terra, que colocava toda a propriedade privada à disposição dos comités agrários e dos sovietes de camponeses - nacionalizações) por medidas mais radicais. Eis então algumas medidas do comunismo de guerra:

• 1918: negociação imediata da paz com os alemães e retirada da Rússia da «guerra estrangeira e capitalista que o socialismo sempre condenou e que o povo russo nunca desejara», através do tratado de Brest-Litovsk.

• A organização dos vários sovietes numa hierarquia em pirâmide, sendo que no topo estaria a Assembleia do Congresso dos Sovietes, de onde saía, por eleição, o Conselho dos Comissários do Povo, o supremo órgão executivo cuja presidência foi entregue a Lenine, tendo Trotsky como comissário da Guerra e Estaline como comissário das nacionalidades. (Centralismo Democrático)

• A destruição do sistema capitalista e a colectivização de toda a economia através da nacionalização imediata de todos os meios de produção: terras, fábricas, minas, bancos, em que o Estado se instituía como gestor principal de todos os bens.

• A instituição do regime de partido único – o partido comunista russo (ex bolchevista), considerado como representante do proletariado. (Centralismo Democrático)

• Instituição da polícia política (Tcheca).

• Instituição da censura.

• Junho de 1918: promulgação da 1ª constituição da Revolução, aprovada pelo V Congresso Geral dos Sovietes que, de acordo com o ideário bolchevique (que favorecia o operariado), declarou o estado russo como um estado federalista e multinacional, constituído pela união das nacionalidades, e adoptou o centralismo democrático.

• 1919: reunião da 3ª Internacional (comunista), em virtude da preocupação com o movimento socialista internacional e com a sua união, que propôs a União de todos os partidos comunistas numa organização internacional (Komintern).

• O Estado era controlado pelo partido Comunista, o que reduziu, na prática, o poder local dos sovietes. (Centralismo Democrático)


Nota: Lenine, apesar da ditadura do proletariado, considerava que a Rússia vivia em democracia, porque, tal como anteriormente os capitalistas exerciam entre si a democracia e oprimiam o povo, agora era a vez de o povo exercer a democracia e oprimir os capitalistas, sendo que quando já não existisse necessidade de opressão, todos exerceriam a democracia na sua plenitude.

(alguns tópicos foram retirados de um resumo fornecido na aula pelo professor de História)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O descontentamento russo ataca e vence


   No início do séc, XX, o povo russo vivia em dificuldades, inserido numa sociedade com características de Antigo Regime, com uma agricultura de subsistência e uma industrialização deficiente sob a vigilância do poder absoluto do czar Nicolau II, que favorecia a nobreza e o clero.
   O descontentamento do povo começa a tomar forma a partir de 1905, com o aparecimento das primeiras assembleias regionais de operários (sovietes), que acabaram reprimidas na Revolução de 1905 (Domingo Sangrento), em que uma manifestação pacífica que reivindicava as condições miseráveis da população é esmagada pelas tropas do Czar.
   A partir de 1914, com a entrada da Rússia na 1ª Guerra Mundial, agravam-se as condições económicas e sociais da Rússia e aumenta o descontentamento de um povo russo já anteriormente com dificuldades e naturalmente indignado com a repressão e massacre resultantes do Domingo Sangrento. Apesar dos esforços do czar na criação de uma liberdade ilusória, através da instituição da Duma (Parlamento russo), estes mostraram-se insuficientes para acalmar os ânimos.
  A indignação russa, escondida pela censura czarista, rebenta em 1917, quando um movimento armado contra o czarismo - camponeses, operários, soldados e marinheiros associados em sovietes - assalta o Palácio de Inverno (Revolução de Fevereiro). O resultado desta revolução foi a substituição do poder do czar Nicolau II por um governo provisório, de cariz liberal (república), que partilhava o seu poder com os sovietes.
   Contudo, a agitação social não diminuía: o povo russo queria sair da guerra. Neste seguimento, em Outubro de 1917 dá-se a Revolução Soviética, em que os Bolcheviques (membros da facção mais radical do partido social democrata), apoiados pelos sovietes, assaltam o Palácio de Inverno. Assim, o governo provisório é substituído pelo Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenine. Lenine afasta então a Rússia da guerra, através do tratado de Brest-Litovsk, e aplicará o teoria de Marx na política russa (desenvolverei este último tema numa próxima postagem).


1917: Assalto ao Palácio de Inverno do Czar da Rússia

Correcções

   Devido a sugestões do professor, deixo aqui pequenas notas para o esclarecimento das seguintes questões:
              1. Por que é que a Itália, embora vencedora, se mostra descontente com o desfeche da Primeira Guerra Mundial?
              2. Por que razão os Estados Unidos não aprovaram o Tratado de Versalhes?

   As respostas:
   1. Embora tenha saído vencedora da Primeira Guerra Mundial, a Itália mostrou-se descontente com as resoluções da Conferência de Paz, no que toca à distribuição de territórios. Durante a guerra, Inglaterra e França haviam-lhe prometido a Dalmácia e a cidade de Fiúme, na Ístria. Na verdade, tal não sucedeu: a Itália, no seguimento da Conferência de Paz de 1919, apenas alarga as suas fronteiras às terras do Tirol e da Ístria (com excepção da cidade de Fiúme). No fundo, a Itália fazia parte do grupo dos "pequenos vencedores" da Primeira Grande Guerra, que se mostravam descontentes, protestando em relação à elevação dos interesses dos "grandes vencedores" (França e Inglaterra) nas resoluções de paz de 1919.

   2. Os Estados Unidos não aprovaram o Tratado de Versalhes, contrariando as intenções hegemónicas sobretudo de França e Inglaterra, porque se identificavam com a opinião do economista britânico Keynes em relação à questão das reparações de guerra, impostas aos países derrotados pelo Tratado de Versalhes, sobretudo à Alemanha. Keynes considerava que a medida das reparações de guerra, que consistia em indemnizações que os países vencidos teriam de pagar aos vencedores, não tinha em vista a recuperação económica da Europa, nomeadamente dos estados vencidos, mas sim o atendimento aos interesses sobretudo de França e Inglaterra (pagamento de dívidas) e a destruição da economia alemã. Por este motivo, o Congresso americano não aprovou o tratado em 1919.