quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Política do Espírito

  

   Tendo necessidade de manter o povo submisso, calmo e ignorante, o Estado Novo estendeu a sua censura à produção cultural portuguesa, pois toda a construção salazarista poderia desmoronar com as ideias inovadoras de alguns artistas, com as opiniões desviantes de determinados escritores e com o relato fidedigno de certos factos por parte dos jornalistas. No entanto, o Estado Novo não se limitou à clássica censura do trabalho desses portugueses.
   Indo mais longe na sua ambição de controlo da produção cultural, o Estado Novo criou um projecto totalizante, no qual os censurados artistas, escritores, jornalistas, ensaístas, cineastas, entre outros, se tornaram marionetas do regime, propagandeando, através do seu trabalho, os ideais salazaristas. As artes e as letras propiciaram uma "atmosfera saudável", cultivando nos portugueses o amor da pátria, o culto dos heróis, as virtudes familiares, a confiança no progresso, o elogio do regime totalitário fascista português.
   A este projecto, dinamizado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, deu-se o nome de «Política do Espírito», dado que com este se pretendia motivar psicologicamente o povo português.
   Mas, essa cultura nacionalista que a Política do Espírito pretendia transmitir deveria ser, segundo António Ferro, uma cultura que evidenciasse uma estética actual, de acordo com os tempos que decorriam. Para a satisfação desta necessidade de modernizar a cultura portuguesa, António Ferro, simpatizante dos modernistas, solicita a colaboração de artistas inseridos nesta vanguarda, aglutinando assim o Modernismo com o conservadorismo.
   Através de exposições nacionais e internacionais, geralmente de cariz histórico, como a Exposição do Mundo Português (1940), divulgavam-se artistas e produções que propagandeavam o ideário do Estado Novo.
   Apesar de todo o empenho do regime salazarista, após a queda dos fascismos em 1945, com a 2ª Guerra Mundial, o Secretariado de Propaganda Nacional demonstrou dificuldades em enquadrar as novas gerações modernas na ideologia do regime, pelo que António Ferro abandona as suas funções em 1949.

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